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RELATOS PESSOAIS DE UMA ESCRITORA EM MEIO A UMA TENTATIVA DE GOLPE

Democracia. Tenho muito medo do que possam vir a fazer com ela. Lutamos tanto para tê-la, para consolida-la. Não é justo que esse capítulo cruel da história de nosso país se repita. Triste é saber que vinte e cinco anos depois estamos lutando contra os mesmos inimigos do Povo.
Como podem? Como ousam tentar retirar de nós tudo o que conquistamos?
Covardes, querem sangrar os Direitos do Povo, querem assassinar seu Legitimo direito ao Voto.
Canalhas, querem fazer do nosso país um verdadeira república de bananas.
Traidores, querem usurpar a Presidência de uma Presidenta Legitimamente eleita.
Criminosos.
Não passarão.



E o Chico?

O Chico veio
Abraçar a Carioca
Que sedutora desabrochava
Feito um Cravo
Vermelho
De tanta emoção
Por encontra-lo tão lindo
Com seus olhos verdes
Assim sorrindo
Democracia para quem quisesse ver
Quanta ousadia a minha
Escrever um poema pro Chico
Mas o que seria da Poesia
Sem ela
A Cidade
De tanto amor
No dia 31 de março de 2016
Enquanto o Povo gritava
Não vai ter Golpe
Mais uma vez se apaixonava por ele
Mais uma fez fazia história
Mais uma vez resistia
Ah esse Buarque
Quanta emoção
Quem imaginaria?



31 de março de 2016


Gente reunida de todas as idades. Diversas gerações de Coragem. Peito aberto, sorriso largo, felicidade. Muita verdade, história, amizade e liberdade enfeitando o ar docemente respirável da Cidade. O Rio de Janeiro ardia. Verão de Democracia. O calor humano tomava de forma avassaladora a Carioca. Explodia. Todo mundo pulava, todo mundo fotografava, todo mundo filmava, todo mundo gritava, todo mundo cantava, todo mundo dançava, todo mundo versava, todo mundo se abraçava, todo mundo poesia. Carinhosamente a Esquerda se cuidava, se acolhia Lutando pela Legalidade, defendendo o Brasil de todas as etnias. Bandeiras tremulavam de alegria. Era o Povo de todas as classes sociais que reagia.
O tempo foi passando. Mais gente se juntando. A Carioca lotando. Lotando como a Praça XV lotou outro dia. Lotando de afetos. Boas energias. E o Povo se alegrava enquanto peleava. Se alegrava porque sabe Lutar no seu dia a dia, porque não se acovarda, porque não teme hipocrisia. O palco acende, um drone nos retrata. Imagens cheias de magia de uma realidade que a mídia golpista esconde porque se acovarda diante da verdade que ela todo dia em suas TVs ela assassina.  É fato. O Povo não foge a Luta, acovarda muito menos se cala diante dos covardes vilipendiadores da Constituição Federal e da Democracia. Hoje é dia 31 de março, quem diria. O que ontem foi lágrima hoje é Democracia. Exatamente por isso eles não passarão. Nós não deixaremos. Não vai ter Golpe. Vai ter luta. Nosso DNA é de Luta. E o Chico ta aí pra dizer. Não, de novo não.



17 de abril de 2016

Cinza. Hoje o dia foi perdendo a cor até anoitecer novamente.

Choro
Minha Democracia tão amada
Tão arduamente conquistada
Hoje despedaçada
Agoniza em Plenário
Em meio as nossas lágrimas
Graças a agressão vil e canalha
De mãos sujas, reacionárias
Traidoras e sanguinárias
Torturadoras cruéis
Da Legalidade e dos Direitos do Povo

Hoje a minha militância apaixonada
Foi ferida, machucada
Enquanto nossa Constituição era vilipendiada
Tragicamente abandonada
Por togas antes tão sagradas
Hoje gravemente maculadas
Choro pelo meu país que sangra
Como em 64
Choro por todas e todos
Pelos nossos
Que tanto lutaram
Até morrer por nós
Quase perco a voz
Mas resisto ainda com as poucas forças que me restam
Mesmo assim eu choro
Choro de raiva
De indignação
De tristeza e inconformismo
Choro feito uma menina, um menino
Choro pelo Povo
Por minhas amigas e meus amigos
Por todos, Filhas e Filhos
Choro pelos que Lutam
Choro até mesmo pelos que não Lutam comigo
Choro inclusive pelos nossos mais ignorantes inimigos
E a cada Lágrima que choro
Eu me lanço um desafio
O de não permitir
Que o meu coração se dê por vencido



18 de abril de 2016


Ontem eu achei que tinha assistido o meu país na tv. Chorei. Só fui entender um certo tempo depois que aquele país não era o meu, na verdade era o deles. O nosso é bem mais bonito. Aquele país não é o que acredito, defendo e amo. O país que eu vi é fascista, fundamentalista, misógino, racista, reacionário, violento, intolerante, covarde, totalitário, corrupto, hipócrita, criminoso, preconceituoso, traidor, calhorda e golpista.
O país que eu reconheço como meu é Democrático, plural, solidário, afetuoso, gentil, educado, sorridente, poético, corajoso, determinado, apaixonado, poético, cultural, musical, amoroso, generoso, alegre, consciente, politizado, digno, guerreiro, ético, honesto e solidário.
No meu país ninguém faz homenagem a torturador, muito menos é aplaudido.
O meu país está nas ruas e não no Congresso Nacional.
O meu país é o mesmo de Jango, Brizola, Darci Ribeiro, Miguel Arraes, Violeta Arraes, Marighella, Lamarca, Dom Helder Câmara, Gregório Bezerra, Anísio Teixeira, Vladimir Herzog, Mario Alves, Paulo Freire e de tantas e tantos que hoje muito nos fazem falta.



11 de maio de 2016

(Texto sujeito ainda a alterações)


Moniquinha/Monicacompoesia

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