Conta a Mitologia Grega que o Rei Cecrope I fundou uma cidade. Imediatamente nela brotaram uma oliveira e uma fonte de água. O Rei, intrigado, perguntou ao Oráculo de Delphos o que significava tal acontecimento. Ele respondeu que a Oliveira simbolizava a Deusa Atena e a fonte de água simbolizava o Deus Poseidon. Cabia ao Rei convocar os cidadãos para que estes decidissem qual dos dois Deuses daria seu nome a cidade. Assim foi feito. Os homens votaram em Poseidon e as mulheres em Atena. Atena venceu por um voto. Poseidon ficou irritado com o resultado e atacou a cidade com ondas muito violentas. Como forma de apaziguar o Deus o Rei Cecrope I submeteu as mulheres a três castigos. Elas perderiam o direito ao voto, nenhum filho teria o nome da mãe e jamais poderiam ser chamadas de atenienses.
Qual a relação entre essa história e o tema proposto nesse artigo para discussão me perguntarão algumas pessoas? Simples, eu explico.
A mitologia não é tão desconexa da realidade que vivemos como se pode imaginar, principalmente em um aspecto. Na forma como os direitos das mulheres são suprimidos a força. Porém, enquanto nos suprimem os direitos dessa forma reagimos e os reconquistamos através da defesa do nosso pleno Direito a Democracia.
Em novembro de 1927 no Rio Grande do Norte (Mossoró), apesar de proibido no Brasil, o voto das mulheres foi autorizado pela primeira vez em função de lei estadual. A eleitora em questão era a professora Celina Guimarães Viana. A estudante mineira Mietta Santiago pouco tempo depois também conseguiu o direito ao voto através de uma sentença judicial inédita no Brasil. Começava assim a surgir um movimento nacional de mobilização com a participação de ativistas, escritoras, militantes, políticas e trabalhadoras com o objetivo de pressionar Getúlio Vargas a conceder as mulheres o direito ao voto. A vitória só veio em 1932, mas foi parcial. Apenas concedia as mulheres casadas com autorização do marido e viúvas com renda própria. O direito ao voto para todas as mulheres só veio em 1934, mas sem a obrigatoriedade. Em 1946 o voto se tornou obrigatório para as mulheres.
Em 2006, cerca de 60 anos depois dos primeiros avanços, pela primeira vez se estabeleceu um percentual de mulheres candidatas, o que é tratado de forma extremamente desrespeitosa pela grande maioria dos partidos, inclusive com a criação de uma prática muito comum denominada de “candidata laranja”, mulheres que se candidatam única e exclusivamente para “fechar a nominata” para que mais homens do partido A ou B possam disputar as eleições. Machismo puro.
Apenas em 2009 foram criados mecanismos legais com o intuito de privilegiar a promoção e difusão da participação feminina na política, o que também não é respeitado pelos partidos, muito menos fiscalizado pelos Tribunais eleitorais estaduais e Federal.
Mesmo sendo indiscutível maioria do eleitorado brasileiro (mais de 52%), nós mulheres somos hoje tratadas como mero dado estatístico eleitoral, desprovidas de direitos concretos, inclusive a uma representação mais ampla como candidatas e parlamentares.
Nós próximos dias será votada a Reforma Política, Reforma essa que não terá nada de reformista, ao contrário.
Ao que se sabe nenhuma cláusula de Gênero sequer será votada, quanto mais aprovada, principalmente no que se refere a cotas para as mulheres. Está mais do que claro que não é de interesse dos Parlamentares, principalmente dos de centro e direita, que as mulheres avancem politicamente, que a nossa representação política seja condizente com a nossa força na sociedade. E o motivo só não vê quem não quer. Vários temas relativos as mulheres, temas progressistas que visam modernizar a sociedade como um todo, serão votados futuramente. É óbvio que os interesses fundamentalistas estão intimamente ligados ao retrocesso. Em função disso entendem eles que estaremos, nós mulheres, em lados opostos aos deles, com força política suficiente para barrar a crescente onda reacionária e fascista que vem desde o início do ano inundando o Parlamento brasileiro. Somos muito mais que mulheres lutando por nossos Direitos, somos uma ameaça concreta a manutenção do poder que hoje se encontra nas mãos de determinados políticos machistas, misóginos, reacionários e fundamentalistas. Por tudo isso aqui exposto eles tentarão nos impedir de todas as formas possíveis. Não conseguirão. Pode até tardar, mas nós sempre vencemos no final. As mulheres de Atenas que o digam. Pronto, falei...
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