Me desfiliei de um Partido Político já faz um tempinho. Cansada da hipocrisia dos múltiplos lados opostos que claramente não me representam decidi romper em definitivo como que tanto me incomodava, o discurso vazio que jamais se transforma em prática, uma pseudo-democracia que segrega por natureza a militância, a não ser nos momentos em que ela é útil aos propósitos de uma meia dúzia de pessoas.
A partir daí comecei a fazer uma análise bem pessoal a respeito do cenário partidário atual com o intuito de facilitar minha futura tomada de decisão.
Com Partido ou não? Eis aqui muito do que pensei até agora a esse respeito.
A primeira coisa que cheguei a conclusão foi que alguns fatores são essenciais nesse pensar.
O primeiro fator é referente ao fato de ser mulher. Não se pode negar que a maioria dos Partidos Políticos funciona, de forma consciente ou não, como um grande centro formador de machistas não assumidos, se bem que alguns até se assumem do alto de uma autoproclamada “ideologicamente intocável supremacia intelecto-política”.
Não é desconhecido que o feminismo é tolerado em termos partidários desde que este respeite um determinado limite autoritariamente estabelecido, pasmem, por homens. Em resumo, não há autonomia real para as mulheres. Nossas lutas são integralmente pautadas por dirigentes caciqueanos do sexo masculino. Alguns desconfio até que são misóginos. Temas como aborto e cotas de gênero na reforma política, por exemplo, são alguns dos temas ferozmente vetados por executivas, sejam elas municipais, estaduais ou federais, compostas quase que em sua totalidade por homens. As mulheres que delas fazem parte minoritariamente possuem papel meramente figurativo, apesar de algumas iludirem-se do contrário.
É preciso ser lamentavelmente realista. Muitos dos Partidos hoje precisam das mulheres única e exclusivamente para cumprir a cota de 30% de mulheres na nominata, o que lhes garante o número total de candidatos homens. Cultura partidária da mulher como mero objeto eleitoral.
É indiscutível que paridade e Partido são duas palavras que não se combinam de forma alguma. Os Partidos são por essência masculinos. É assim que enxergam, se dizendo de esquerda ao não. É inviável dentro desse cenário que homens e mulheres caminhem juntos para a luta. Isso apenas na visão deles. A história demonstra exatamente o contrário. Mas vamos em frente apesar da misoginia alheia.
O segundo fator tem relação mais do que direta com a origem da minha formação política. Sou cria confessa e com muito orgulho do movimento estudantil. Exatamente por isso meu DNA político não abre mão do meu Direito as livres Manifestação e Expressão, inclusive dentro de um Partido Político. Eu simplesmente não permito que sequer tentem me colocar cabresto, sei pensar sozinha.
Hoje os Partidos premeditadamente vem abdicando de sua militância, do seu chão, da vontade das ruas em prol de acordos de interesses que visam sordidamente favorecer a um minúsculo “grupo de elite” formado por dirigentes, eternos candidatos e parlamentares que visam única, exclusiva e incondicionalmente a manutenção do Poder em suas mãos. Por isso não acredito em “Frentes”. Todas tem um certo "rabo preso" com algum tipo de interesse. É tudo toma lá dá cá.
Hoje em dia em determinados Partidos não existem mais eleições para executiva e sim troca de donos, como se um Partido Político fosse propriedade de alguém. Pregam democracia enquanto se alternam praticando golpes brancos um contra o outro sucessivamente. Fato inquestionável. Não existem santos nesse processo, apesar de alguns componentes da militância útil inocentemente acreditarem que sim. A hipocrisia é um elemento comum a todos os grupos que internamente lutam entre si por Poder em termos partidários, sem exceção.
Outro fator é referente a total falta de transparência na gestão de alguns Partidos Políticos. Temas como os reais valores de verba partidária e de doações, entre outros recursos, são tratados por executivas municipais, estaduais e federais como informações secretas que não podem cair em “mãos erradas”. É inaceitável que tais informações sejam de impossível acesso por parte da sociedade civil, incluindo sua própria militância. O que é possível de se ter acesso na grande maioria das vezes não condiz com a realidade, simples assim. A nebulosidade dessa prática me faz ter a mais plena certeza de que as finanças de um Partido Político representam uma caixa preta no mínimo constrangedora para alguns. Isso sem contar as informações referentes aos bens dos Partidos e sua respectiva condição legal.
No meu humilde entender todo Partido Político deveria ter seu orçamento aprovado no início de cada ano e suas contas prestadas ao final de cada ano em Assembleia especifica aberta ao voto de todos os filiados, sem eleição de delegados. Além disso a cada véspera de ano eleitoral os recursos destinados aos candidatos deveriam passar pelo mesmo processo.
Uma outra sugestão seria que cada executiva que fizesse uso indevido dos recursos partidários realmente respondesse com os bens pessoais de cada membro.
Uma das formas de reduzir a corrupção seria uma profunda reformulação da Lei que rege os Partidos com a inclusão de um artigo que criasse a obrigatoriedade anual de uma auditoria externa com direito a resultado divulgado na integra, da mesma forma que o balanço de uma empresa.
O ultimo fator que pensei refere-se a perda de identidade. Os Partidos em função de todos os outros dois fatores que escrevi acima vem perdendo tudo aquilo que os tornou fortes em um determinado período na nossa história. A capacidade de ser fiel a tudo que foi proposto por aqueles que um dia os fundaram para atuarem junto ao povo em suas lutas. Partido hoje não tem mais cara de Partido. Tem cara de fulano, de sicrano, e por aí vai.
Personalizar um Partido é o mesmo que dizer que sua história é menor que a história das pessoas que estão momentaneamente a sua frente. Não tem cabimento, não tem coerência. Não tem nenhum pingo de ideologia nisso. Mas a prática é comum. E está levando a política a uma profunda crise de representatividade cuja culpa é de todos que contribuem com seus atos ou omissões. Eu particularmente defendo diante disso que se vote em Partidos e não em pessoas, em projetos e ideias ao invés de candidatos, com a devida proporcionalidade entre homens e mulheres em termos de representação.
Sem a menor dúvida eu poderia continuar escrevendo indefinidamente sobre o tema, mas vou parar por aqui. E encerro esse texto chegando pelo menos a uma conclusão. A de que não me sobra muita esperança diante do quadro atual. O que me tranquiliza é a minha teimosia. Não vou desistir, apesar de tudo, de ter uma nova vida partidária condizente com o que acredito. Finalizo praticamente parafraseando Chico "...apesar de vocês amanhã há de ser outro dia..." Pronto, falei...
Moniquinha
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