A dita cidade maravilhosa vem sangrando hemorragicamente faz tempo. Como remédio para tamanha sangria as autoridades decidiram de modo controverso cortar ainda mais fundo na carne do povo.
Nos tornamos uma cidade cheia de ódio, cheia de medos e exalando rancores e preconceitos fétidos por todos os poros. Somos uma sociedade assustadoramente febril.
Nas comunidades se matam crianças e adolescentes livremente, forjam-se autos de resistência, impõe-se a cultura do medo, exacerba-se orgulhosamente a impunidade estatal como política oficiosa de governo.
Na zona sul segregam os corpos, humilham as almas, torturam a cidadania, vilipendiam o cadáver insepulto dos direitos humanos de quem ousa ultrapassar os muros invisíveis construídos em nome da santa hipocrisia do capital.
A juventude classe média do alto de sua mais completa e histórica ignorância herdada orgulhosamente de seus pais e avós vomita impunemente fascismo pelas ruas mais poéticas do mundo apenas porque jovens negros, pobres e periféricos ousaram durante os finais de semana invadir o seu suposto reinado pequeno burguês.
Esses pobres meninos que se acham ricos com o aval do silêncio policial derramam pelas ruas sua arrogância sem limites. Hipócritas, abraçam-se portando tacos de beisebol manchados de sangue e cérebros vazios transbordados de ódio. Quanto a um coração, repositório de sensibilidade e afetos, é pedir demais que o tenham.
A sabedoria popular nos ensina corajosa e subversivamente que os mesmos que constroem muros um dia serão obrigados a demoli-los com as próprias mãos.
É bom não esquecer. O povo não suporta tanta dor e tanta opressão por tanto tempo. Um dia o oprimido reage. E no dia em que reagir não será apenas por um dia, mas para a vida inteira.
Tenho certeza de que tal reação será bem mais profunda do que muitos imaginam. Não será no revide puro e simples como alguns supõem, mas sim através de uma profunda reorganização política e social para desespero dos reacionários de plantão.
No dia em que o povo resolver votar e confiar no povo a cidade voltará a ser feliz, voltará a ser de todas e todos nós. Literalmente sem exceção.
Não tardará que o povo volte a se governar. E quando esse dia chegar o apartheid carioca finalmente terá fim.
Moniquinha/Monicacomposia
Comentários